Liga da Justiça: muitos erros para pouquíssimos acertos


Quero começar o texto indagando você, leitor antigo de quadrinhos: Depois do filme da Liga da Justiça, você saiu do cinema com o mesmo sentimento da época do primeiro Vingadores?

Por mais que a Marvel não seja a sua editora favorita, é praticamente impossível que essa resposta seja Sim. E a razão disso é bem simples: com os Vingadores, você foi para o cinema assistir "O Evento"; já com a Liga da Justiça, foi apenas mais um filme de super herói.


Conferi Liga da Justiça ontem, e, diferente do que geralmente faço... fiz questão de ainda surfar na onda da empolgação pegando o filme antes de completar uma semana em cartaz. Infelizmente, todo o esforço foi praticamente em vão: por mais empatia que se tenha com a produção dos super heróis mais conhecidos de todos, o sentimento de frustração é que toma conta no final.

É até difícil apontar os erros que fazem desse filme a maior decepção do "gênero". Tivemos BVS, Lanterna Verde, Homem de Ferro 3, todavia, nenhum desses supera o que foi feito com o filme onde tínhamos seis ícones da cultura pop reunidos.

Porém, ao contrário de outras resenhas lançadas na internet, não me limitarei a escrever ponderações apenas sobre o filme, mas também sobre outras questões que são bastante nítidas (para quem enxerga de forma racional e não apenas como fã) e "ajudaram" a transformar a Liga da Justiça em algo tão descartável.


Planejamento, planejamento e planejamento

Pode não fazer muito sentido para muitos, mas quem é da área de publicidade, marketing ou comunicação em geral entende como o planejamento - ou a falta dele - pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de um produto.

Não é uma questão comparativa, porém, citar a Marvel é a melhor maneira de explicar este ponto de vista. É como se você quisesse discorrer sobre o porquê do leite Itambé não ser tão bom... basicamente, você apontaria as qualidades do leite Ninho.

Enfim, por que o sentimento ao final do filme da Liga da Justiça não é o mesmo da época de Vingadores? Será que o filme de equipe do Capitão América é perfeito e sem erros? Veementemente NÃO. Vingadores é uma película cheio de falhas e a cada nova conferida, você consegue perceber mais e mais deslizes. Então, como a empolgação tomou conta de 99% dos fãs na época?

A resposta para isso é simples: PLANEJAMENTO.

A Marvel realizou um trabalho diferenciado, sensacional, espetacular e induziu você, eu e todo o público a esperar por aquele filme. Um trabalho de quase cinco anos que culminou no Evento Vingadores. E, por mais falhas que o filme tivesse, aquilo seria épico de todas as formas... a vontade de assistir era proporcional a de uma criança que recebeu a promessa de visitar o parque da Disney no final do ano... o dia no parque poderia ser horrível, mas ele acharia tudo ótimo, pois esperou ansiosamente por aquele momento.

Um exercicio rápido de reflexão: Lembre-se da sua felicidade quando, no desenho do Aranha nos anos 90, apareciam outros personagens como Demolidor, Justiceiro e X-Men. A euforia era tremenda, porque era a transposição do quadrinho para outra mídia.

Coloque toda essa ansiedade para o cinema, com atores reais e um estúdio atiçando a todos por quase cinco anos. Era impossível não sair soltando fogos depois de tudo isso.

Infelizmente, com Liga da Justiça não houve nenhum planejamento... aliás... essa palavra parece ter passado longe dos corredores da DC / Warner. Quando na mesma época que a Marvel anunciou Guerra Civil, e a DC anunciou Batman v Superman (em detrimento ao antes certo Man of Steel 2), isso ficou bastante claro.

Como dito, por mais que você tente se encher de empolgação, você sabe que não está indo conferir O Evento... é apenas mais um filme que sucede o sofrível BVS e que teve o seu epílogo no Homem "quebrador de pescoços" de Aço. 

Assim, quando não há um planejamento consistente, estudado e bem executado, é necessário se superar na qualidade do seu produto. Mas, é nesse ponto que a Liga da Justiça comete os maiores pecados. 


Bom, é importante pontuar que, pelo menos, a Warner assimilou um pouco das críticas de BVS. O filme que trouxe um Batman assassino e mais uma vez o Superman depressivo não foi muito bem aceito pelo público em geral.

Ok, dessa vez temos um Superman sorridente, que salva pessoas (não somente a Lois) e que não se sente amargurado por ter super poderes; além disso, foi apresentado um Batman que não mata. 
Muitos disseram que o homem morcego virou o tiozão do churrasco piadista, não é verdade. Ele continua sendo um personagem sério, a diferença é que está agindo em equipe - talvez a única "piada" desnecessária é quando ele diz que tem alguma coisa sangrando.

Um Superman heroico e um Batman que não é um psicopata foram sim evoluções e acertos desse filme, ponto para DC / Warner. Além desses... não tem mais nada. Por mais que possa incomodar os fãs mais fervorosos, a verdade é que as virtudes de Liga da Justiça começam e terminam neste dois pontos.

Lembra-se da questão de que se você não prepara "O Evento", precisa se superar na qualidade do produto final? Eu digo que isso nem seria tarefa impossível... ora bolas... você tem seis dos maiores ícones da cultura pop no mesmo filme. Se chegamos até aqui, ainda que no empurrão, vamos transformar em épico mostrando toda magnificência de cada personagem.  

Os dois primeiros capítulos do desenho de Liga da Justiça estão aí para mostrar que era possível colocar todos os personagens juntos, sem muito apresentação, e fazer maravilhosamente bem. Se considerarmos que antes da série do grupo, apenas o Super e Batman tiveram desenhos próprios, a possibilidade era ainda mais real.

Porém, mais uma vez, a Warner escolheu o caminho mais estranho e fez tudo ao contrário. Não temos nada que lembre a reunião acontecida no desenho. Nada é grandioso, nada é épico, nada. Acontecem apresentações pífias, sem muito sentido e nenhuma naturalidade.

Para ficar de fácil assimilação, eu me senti assistindo Esquadrão Suicida, só que com personagens mais famosos. É basicamente essa sensação que Liga da Justiça passa: uma colcha de retalhos editada, tal como o filme horroroso da Arlequina e seus amigos.


Atores / personagens 

Não há maneira de falar sobre os atores e suas interpretações sem chatear os fãs abrasados. No entanto, é preciso: a qualidade desses atores estão longe da importância dos seus personagens.

Para dizer a verdade, eu não gosto muito de criticar o trabalho de um profissional. Sempre acreditei que, no mínimo, deve se reconhecer o esforço individual. Mas, o baixo nível de atuação de alguns artistas é muito visível para não ser comentado. 
Para ser mais coeso, comentarei sobre cada ator e seu respectivo personagem:

Flash

Nossa, o que fizeram com o Flash? Aquele não é o Barry Allen... e... acredite... nem o Wally West. Muita gente comentou que o o personagem é o Wally com nome de Barry. Não, não é. Aquele Flash só seria aceitável se ganhasse o nome de Impulso.

Só apresentando o mais infantil dos Corredores para concordarmos discretamente com aquilo. Mas, independentemente do nome, o personagem é muito ruim. Só existe uma cena boa com o Flash: quando ele pega o bat-bumerangue. Depois daquilo, poderia esquecê-lo e retirar do filme.

Não conheço outros trabalhos do Ezra Miller, não serei hipócrita. Por isso, quero acreditar que ele tem talento e capacidade para fazer algo muito melhor, e que aquilo mostrado no filme foi exigência de um diretor ou chefe da Warner.

Ciborg

O que dizer? Se não estivesse no filme não faria falta alguma. Uma pena, mas a verdade é que o Ciborg nem precisaria realmente fazer parte agora da Liga. O personagem pareceu completamente deslocado. O início até parecia promissor, mas não passou disso.

Tal como Ezra Miller, o Ray Fisher aparentou apenas cumprir no automático o que lhe passaram. Nível de atuação baixíssimo e completamente esquecível.

Aquaman 

Veja como trailers podem realmente enganar o espectador. Os comerciais davam a entender que o Aquaman teria uma participação relevante e seria um ótimo personagem no filme. Ledo engano. O Aquaman conseguiu ser ainda mais dispensável que o Ciborg, pois este ainda tinha ligação com as caixas maternas.

Jason Momoa: agora fica fácil entender porque ele foi preterido pela Marvel. Infelizmente para quem gosta do ator, Momoa não seria capaz de apresentar um personagem "brucutu", mas que fosse emotivo e inocente ao mesmo tempo... tal como Dave Bautista o fez com o seu Drax no primeiro Guardiões da Galáxia.

Momoa veio direto de Game of Thrones, onde representava uma pessoa que mal falava...e quando falava, era uma língua que nem existe de verdade. A limitação de Momoa é muito grande e o seu Aquaman é a personificação da inutilidade do personagem. Colocaram um visual badass, um rock pesado, mas não adiantou. Momoa não convenceu. E o problema maior é que vem o seu filme solo em breve.

Mulher Maravilha

Uma pena, a Mulher-Maravilha apresentou um filme solo interessante, que chamou a atenção de todos por ser o primeiro filme heróico desse novo universo da Dc. Todavia, em Liga da Justiça, a personagem ganha um peso mínimo e nem mesmo a sua ligação direta com as Amazonas é aproveitada.

Veja bem, o filme da Mulher-Maravilha foi um bom filme, mas isso não faz da atriz uma boa intérprete. Admito, Gal Gadot é linda, tem carisma, mas o seu nível de atuação é comparável ao da menina que fez Crepúsculo. 

Assistindo suas participações em Velozes e Furiosos, BvS, Wonder Woman e Liga da Justiça, fica claro que o elenco de apoio faz toda diferença na interpretação da Gadot. Quando contracena com atores com alguma qualidade como Chris Pine, ela consegue desenvolver e convencer em alguns momentos; no entanto, quando divide a tela com profissionais como Vin Diesel e Jason Momoa, a sua falta de qualidade fica bastante evidente.

Torço para que ela cresça cada vez mais como atriz e que os produtores entendam sua limitação e coloquem um elenco de apoio que a favoreça.

Batman

Não temos um Batman que mata, já é muito bom. Somado a isso, o Batman é o personagem que melhor interage com os outros, e a sua dobradinha com o Alfred (Jeremy Irons) está sensacional. Claro, ainda não acertaram completamente o ponto, mas esse Batman está muito mais agradável do que em BvS.

Ben Affleck é de longe o ator mais talentoso da equipe. Logicamente, ele não é um primor, mas se destaca dentre os demais. Porém, talvez por tanta crítica, tantas perguntas sem sentido, o ator aparenta já estar meio cansado disso tudo. Com tanta notícia sobre a sua suposta saída, pode ser que ele já esteja considerando isso. Reparem nas entrevistas dele, ou ele incorporou o Batman 24 horas ou realmente cansou de tudo.

Superman

Aeeeeeeeeeeeeeeee, agora sim. Temos um Superman heróico 100% inspiração. Provavelmente o personagem que mais sofreu nessa nova leva foi o escoteirão. De um ser altruísta e esperançoso, para um destruidor de cidades e amargurado. Mataram o Super do mal e trouxeram o Super bonzinho. Morreu o Super dos novos 52 e chegou o Superman do rebirth.

Agora ficou claro que o Henry Cavill, mesmo estando um pouco abaixo do Ben Affleck em atuação, estava sendo prejudicado pelo roteiro. O cara sabe rir, consegue passar esperança e sabe fazer cenas salvando pessoas. Cavill intepretou o melhor Superman nessa nova era.


Enfim, por mais que os fãs não gostem, o fato é que este filme está longe de ser o que a Liga da Justiça merecia. É claro, a Warner não ajudou preparando o terreno para tornar isso grandioso, ainda assim, era possível fazer algo muito melhor com o material que eles têm em mãos.

Não serei leviano em dizer que foi culpa do Snyder ou Joss Whedon, até porque, custo a acreditar que um diretor profissional, em sã consciência, promova essa colcha de retalhos. Todos sabemos que Esquadrão Suicida foi finalizado pelo CEO da Warner... infelizmente, Liga da Justiça parece ter dito o mesmo destino. Não foi dessa vez.

E se você chegou até aqui e acha que eu odeio a Dc ou sou fanboy Marvel: POR FAVOR, LEIA DE NOVO, POIS VOCÊ NÃO ENTENDEU O TEXTO.

É isso, até a próxima.
guest author area 51  Toddy Honesto
Bacharel em Publicidade e um duro convicto. Não tem dinheiro para comprar HQ´s, ir ao cinema ou Netflix. Busca sempre o Sim, porque o Não já é certo. Pai da Sofia, a cachorra cantora..  / 

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